Correio MFC n° 284



     

                                                


  MFC - MOVIMENTO FAMILIAR CRISTÃO

                                30 ABRIL 2012 - CORREIO MFC BRASIL Nº 284 – 6800 DESTINATÁRIOS

Espiritualidade e religião se complementam, mas não se confundem. A espiritualidade existe desde que o ser humano irrompeu na natureza, há mais de 200 mil anos. As religiões são recentes, não ultrapassam 8 mil anos de existência.

   Espiritualidade e Religião

Frei Betto*



A religião é a institucionalização da espiritualidade, assim como a família é do amor. Há relações amorosas sem constituir família. Do mesmo modo, há quem cultive sua espiritualidade sem se identificar com uma religião. Há inclusive espiritualidade institucionalizada sem ser religião, como é o caso do budismo, uma filosofia de vida.

As religiões, em princípio, deveriam ser fontes e expressões de espiritualidades. Nem sempre isso ocorre. Em geral, a religião se apresenta como um catálogo de regras, crenças e proibições, enquanto a espiritualidade é livre e criativa. Na religião, predomina a voz exterior, da autoridade religiosa. Na espiritualidade, a voz interior, o "toque” divino.

A religião é uma instituição; a espiritualidade, uma vivência. Na religião há disputa de poder, hierarquia, excomunhões e acusações de heresia. Na espiritualidade predominam a disposição de serviço, a tolerância para com a crença (ou a descrença) alheia, a sabedoria de não transformar o diferente em divergente.

A religião culpabiliza; a espiritualidade induz a aprender com o erro. A religião ameaça; a espiritualidade encoraja. A religião reforça o medo; a espiritualidade, a confiança. A religião traz respostas; a espiritualidade suscita perguntas. As religiões são causas de divisões e guerras; as espiritualidades, de aproximação e respeito.

Na religião se crê; na espiritualidade se vivencia. A religião nutre o ego, pois uma se considera melhor que a outra. A espiritualidade transcende o ego e valoriza todas as religiões que promovem a vida e o bem.

A religião provoca devoção; a espiritualidade, meditação. A religião promete a vida eterna; a espiritualidade a antecipa. Na religião, Deus, por vezes, é apenas um conceito; na espiritualidade, uma experiência inefável.

Há fiéis que fazem de sua religião um fim e se dedicam de corpo e alma a ela. Ora, toda religião, como sugere a etimologia da palavra (religar), é um meio para amar o próximo, a natureza e a Deus. Uma religião que não suscita amorosidade, compaixão, cuidado do meio ambiente e alegria, serve para ser lançada ao fogo. É como flor de plástico, linda, mas sem vida.

Há que tomar cuidado para não jogar fora a criança com a água da bacia. O desafio é reduzir a distância entre religião e espiritualidade, e precaver-se para não abraçar uma religião vazia de espiritualidade nem uma espiritualidade solipsista, indiferente às religiões.

Há que fazer das religiões fontes de espiritualidade, de prática do amor e da justiça, de compaixão e serviço. Jesus é o exemplo de quem rompe com a religião esclerosada de seu tempo, vivencia e anuncia uma nova espiritualidade, alimentada na vida comunitária, centrada na atitude amorosa, na intimidade com Deus, na justiça aos pobres, no perdão. Dessa espiritualidade resultou o cristianismo.


Há teólogos que defendem que o cristianismo deveria ser um movimento de seguidores de Jesus, e não uma religião tão hierarquizada e cuja estrutura de poder suga parte considerável de sua energia espiritual.

O fiel que pratica todos os ritos de sua religião acata os mandamentos e paga o dízimo e, no entanto, é intolerante com quem não pensa ou crê como ele, pode ser um ótimo religioso, mas carece de espiritualidade. É como uma família desprovida de amor.

O apóstolo Paulo descreve magistralmente o que é espiritualidade no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios. E Jesus a exemplifica na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37) e faz uma crítica mordaz à religião em Mateus 23.

A espiritualidade deveria ser a porta de entrada das religiões. Antes de pertencer a uma Igreja ou a uma determinada confissão religiosa, melhor propiciar ao interessado a experiência de Deus, que consiste em se abrir ao Mistério, aprender a orar e meditar, penetrar o sentido dos textos sagrados.

*Frei Betto é escritor, autor de Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros. Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br].

Política


A chantagem indecorosa
Helio Amorim*

O senador rei da soja desafiou a presidente da República por todos os canais de TV: “ou devolve para o meu partido o ministério dos Transportes, ou os nossos oito senadores passam para a oposição ao governo”.

O senador não ficou rubro de vergonha nesse também vergonhoso episódio de política suja. Ao contrário, exibia a clássica pose de poderoso defensor do povo brasileiro ao exigir a devolução para o partido do feudo que se transformou no que há de mais sujo na política brasileira ao longo de uma década de corrupção.

Denúncias e crimes financeiros comprovados derrubaram o ministro do partido e toda a cúpula dos órgãos que cuidam ou descuidam das rodovias e ferrovias brasileiras, com dezenas de demissões por ordem da presidente.

O escândalo maior, após o desmantelamento da quadrilha, chegou com esse desafio do senador milionário à presidente. Os oito honestos senadores do partido irão para a oposição se não lhes devolverem o ministério para a recomposição da máfia desarticulada. Não é por discordância com a política, com os programas estratégicos, com as prioridades ou o planos do governo, que eles apoiam e continuarão apoiando se lhes devolverem a chave desse tesouro.

É incrível esses senhores não perceberem a desonestidade explícita dessa chantagem política indecorosa capaz de corar o mais insensível chefe de quadrilha de traficantes ou produtor de pornografia. Porque a cena do senador brandindo as armas foi realmente pornográfica, capaz de justificar uma perda de mandato por mau comportamento e falta de decoro parlamentar.

A presidente deverá prosseguir nessa faxina para manter higiênico o seu governo sem ceder a indecentes chantagens dos personagens de sempre que usam o poder para dilapidar o tesouro de todos. Têm crises nervosas cada vez que parte desse poder de barganhas lhes é retirado.
*Membro do Movimento Familiar Cristão – MFC

 Para refletir











A Parábola do Mar da Galiléa e do Mar Morto

Padre Leandro Padilha

Na Terra Santa encontramos dois mares bem conhecidos. Embora alimentados pelo mesmo Rio Jordão, eles são, no entanto, totalmente distintos um do outro.

O Mar da Galiléa é de água doce e contém muitos peixes. Seu litoral é salpicado por cidades e belas aldeias. As colinas que rodeiam o mar são férteis e verdejantes.

O outro mar é o Mar Morto. É célebre pela sua densidade de sais minerais. Não tem peixes. Os vegetais não têm condições de vida. Seus arredores são desertos. Não existe área verde. O Mar Morto apresenta aspecto desolador.

De onde vem esta diferença?
A explicação é simples e simbólica.

O Mar da Galiléa recebe pelo norte as águas do Rio Jordão, com toda sua carga de vida e fertilidade. Porém não guarda para si esta fertilidade. As águas seguem seu curso para o sul.

É um mar que recebe a água do Monte Hermon e das colinas de Golan. Riquíssimo em águas e em vegetação, o Mar da Galiléa não vive para si; reparte tudo aquilo que recebe de cima.
O Mar Morto é totalmente diferente. Recebe igualmente a água do Rio Jordão, mas retém esta água para si. Não possui saída. Enquanto as águas se evaporam, todos os sais minerais se acumulam no enorme recipiente fechado. A excessiva saturação é estéril, não permite vegetação alguma, não tem vida.

É um mar que mata. É o Mar Morto.


 Documentos do Concílio Vaticano II – “Gaudium et Spes”
Os bens da terra, destinados a todos
69. Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo a justiça, secundada pela caridade (8).
Sejam quais forem as formas de propriedade, conforme as legítimas instituições dos povos e segundo as diferentes e mutáveis circunstâncias, deve-se sempre atender a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem usa desses bens, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros (9).
De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias. Assim pensaram os Padres e Doutores da Igreja, ensinando que os homens têm obrigação de auxiliar os pobres e não apenas com os seus bens supérfluos (10).
Aquele, porém, que se encontra em extrema necessidade, tem direito de tomar, dos bens dos outros, o que necessita (11). Sendo tão numerosos os que no mundo padecem fome, o sagrado Concílio insiste com todos, indivíduos e autoridades, para que, recordados daquela palavra dos Padres - «alimenta o que padece fome, porque, se o não alimentaste, mataste-o» (12) - repartam realmente e distribuam os seus bens, procurando sobretudo prover esses indivíduos e povos daqueles auxílios que lhes permitam ajudar-se e desenvolver-se a si mesmos.

*     Aos pobres em extrema necessidade, o Concílio reconhece o seu direito de se apoderar dos nossos bens que necessitem para sobreviver e desenvolver-se dignamente como pessoas humanas.
*     Dentre esses bens se incluem terras improdutivas que lhes permitam cultivar alimentos e construir casas e abrigos para suas famílias.
*     São chamadas invasões. São na verdade tomadas de posse do que lhes pertence, segundo a justiça de Deus.



Movimento Familiar Cristão (MFC) congrega 8 mil famílias no Brasil e cerca de 100 mil nos cinco continentes. Através dessas famílias cristãs dedica-se a anunciar e lutar por um mundo mais justo e fraterno no qual todas as famílias possam exercer com dignidade a sua missão de formar pessoas e transmitir sua fé, valores humanos e espirituais, denunciando os mecanismos sociais e econômicos que conspiram contra essa construção que Jesus chamou de Reino de Deus. O MFC é de Utilidade Pública Federal e foi reconhecido por Decreto do Vaticano como entidade de fiéis de direito privado a nível mundial.


 SE DESEJAR, RETRANSMITA PARA A SUA LISTA DE CORRESPONDENTES. ESTE É UM PROGRAMA DE EVANGELIZAÇÃO, FORMAÇÃO FAMILIAR, CONSCIENTIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA DO MFC. SE ESTIVER RECEBENDO MAIS DE UMA VEZ O MESMO CORREIO, DESCULPE E INFORME-NOS: O SEU ENDEREÇO PODE ESTAR EM MAIS DE UMA LISTA DE DESTINATÁRIOS. APRECIAREMOS COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES. 6800 DESTINATÁRIOS NO BRASIL E AMÉRICA LATINA.