MFC - MOVIMENTO FAMILIAR CRISTÃO
PÁSCOA,
ABRIL 2012 - CORREIO MFC BRASIL Nº 283 – 6800 DESTINATÁRIOS
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Que a Páscoa seja vivida em todas as suas dimensões,
significados e desafios à responsabilidade dos cristãos com o Reino de Deus
anunciado por Jesus de Nazaré para realizar-se na história humana
(“assim na terra como no céu”) e com a denúncia de tudo o que
conspira contra a sua concretização histórica por Ele anunciada. Esta é a
missão do cristão hoje: diante dos problemas pessoais, familiares e
sociais, atuar com coragem, animados pelas luzes do Concílio:
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“O povo de Deus, levado
pela fé com que acredita ser conduzido pelo Espírito do Senhor, o qual enche
o universo, esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e
aspirações, em que participa juntamente com os homens de hoje, quais são os
verdadeiros sinais da presença ou da vontade de Deus. Porque a fé
ilumina todas as coisas com uma luz nova, e faz conhecer o desígnio divino
acerca da vocação integral do homem e, dessa forma, orienta o espírito para
soluções plenamente humanas.” – Gaudium et
Spes, 11.
Teologia: Para ler devagar e refletir
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Sempre
nos pareceu muito evidente afirmar que o Cristianismo é uma religião. Pois
na verdade isso não é tão claro assim. Cada vez mais a teologia se inclina
por afirmar que o Cristianismo não pode ser definido como uma religião. O
que significa isso? Na verdade, muitas coisas e que, se pensarmos bem, não
irão nos parecer tão estranhas. Comecemos do começo. Ou melhor: comecemos
por Jesus de Nazaré. Será que podemos afirmar que Jesus queria fundar uma
religião? Achamos que não.
O Cristianismo: uma religião? Ou
a saída da religião
Maria Clara Lucchetti Bingemer
Teóloga,
professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio
Adital
Jesus já tinha uma religião
e não pensava em escolher outra. Era um judeu piedoso e fiel. O que o incomodava,
justamente, era aquilo que os especialistas da religião haviam feito com a
fé de Israel. Ao ler os quatro evangelhos, vemos claramente que a disputa
de Jesus com os mandatários de sua religião se centra na distorção ou
deturpação da imagem de Deus que os que se acreditavam donos da religião,
do templo e da lei haviam feito. Haviam posto sobre os ombros do povo um
peso tão absolutamente insuportável que era impossível de carregar. Um sem
número de rubricas, ritos, prescrições.
Uma severidade implacável para
com o cumprimento de todas essas mínimas normas e uma crueldade com as
pessoas mais simples e humildes que não conseguiam cumpri-las por não terem
condições de fazê-las. Jesus percebia que segmentos inteiros do povo eram
declarados sem Deus: doentes, leprosos, pecadores. E que várias categorias
de pessoas eram tratadas como cidadãos de segunda categoria dentro deste
mesmo povo: mulheres, crianças.
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A esses então Jesus anuncia uma boa notícia, um Evangelho: o
projeto do Pai, o Reino é para eles também. Mais ainda: eles serão os
primeiros a entrar, pois são humildes, se reconhecem pecadores, se sabem
necessitados de misericórdia e perdão, e não se acham donos inexpugnáveis
e sobranceiros do dom de Deus, que ninguém pode se arvorar em possuir. Ao
fazer isso, Jesus não queria atacar nem agredir a religião de seus pais,
na qual havia nascido e a qual amava. Desejava apenas que a pureza do
ideal da Aliança que sustentou a história e a caminhada de Israel pudesse
continuar e
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crescer em toda a sua pureza.
Porém, por isso mesmo, foi considerado blasfemo. Acusaram-no de agir contra
a religião, de colocar em perigo a religião vigente que emanava do Templo
de Jerusalém.
Fazem, então, um complô para
matá-lo. E efetivamente o matam. É algo que deve nos fazer pensar que quem
matou Jesus não foi um grupo de bandidos e fora da Lei. Ao contrário, foram
homens considerados de bem, guardiães da ordem e da religião. Por crê-lo inimigo
da religião de Israel, acreditaram dever eliminá-lo. Temiam que ele
quisesse acabar com a religião e trazer uma nova. Na verdade, a proposta de
Jesus não é a de uma religião, e sim de um caminho: o caminho do amor, da
justiça, da fraternidade.
O caminho da experiência de ser
filhos de um Deus que é Pai bondoso, amoroso, misericordioso. E, por isso,
ser irmãos uns dos outros. Assim fazendo, Jesus desloca o eixo da presença
de Deus do Templo para o ser humano. Anuncia que quando alguém está ferido
à beira do caminho há que deter-se e socorrê-lo, atendê-lo com todo o amor
e desvelo possíveis. E não ir correndo para o templo porque se está
atrasado para a celebração.
Quem se detém e pratica o amor
para com o próximo ferido e desamparado encontra a Deus. Mesmo que seja um
idólatra, como o samaritano do capítulo 10 do evangelho de Lucas. Mesmo que
esse Deus se revele fora do Templo e das rubricas da Lei. Com a morte de
Jesus e a experiência de sua ressurreição, seus seguidores começaram a
anunciar seu nome e um movimento de fé criou-se em torno dele. E essa fé
necessitava de uma religião para expressar-se. Por isso, tomou os ritos do
judaísmo e acrescentou outros.
O Cristianismo nascente tentou
ficar dentro da sinagoga. Não foi possível e o próprio Paulo - judeu filho
de judeus, circuncidado ao oitavo dia, da tribo de Benjamin, formado aos
pés de Gamaliel - com muita dor na alma, foi quem chefiou o movimento de
ruptura e ida aos gentios. Espalhou-se pelo mundo a nova proposta, cresceu
e configurou todo o ocidente. Aquilo que começara humildemente em Nazaré da
Galileia, com o carpinteiro fazedor de milagres que chamava Deus de Abba
– Paizinho - tornava-se, sobretudo depois do século IV, a religião
mais poderosa e hegemônica do mundo.
Foi preciso que houvesse a virada
da modernidade, o declínio do mundo teocêntrico medieval, que o
Cristianismo perdesse o poder que tinha de instância normativa dentro da
sociedade, para que aparecesse a verdade inicial em toda a sua pureza. O
Cristianismo não é uma religião. Ou, se for, é uma religião da saída da
religião. É um caminho de fé que opera pelo amor, um estilo de viver, nas
pegadas de Jesus de Nazaré, que passou pelo mundo fazendo o bem. O que isso
quer dizer para nós hoje? Que tudo que é religioso é mau? De forma alguma.
Os gestos, os rituais, as normas,
as fórmulas religiosas são boas, desde que enunciem a verdade de uma fé, de
um sentido de vida que se expressa na abertura a Deus e ao outro. E por
isso são relativas. Pode ser que algumas expressões religiosas que foram muito
adequadas a determinada época histórica sejam extremamente inadequadas a
outra ou outras. O único absoluto é Deus. O resto... é resto mesmo. Isso é
que, hoje como ontem, o Cristianismo é chamado a proclamar diante do mundo.
Autora de "Simone Weil - A força e a
fraqueza do amor” (Ed. Rocco).
Copyright 2012 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER
Copyright 2012 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER
Poema
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Aos Que
Passam Em Nossas Vidas
Cada um que passa em nossa vida passa sozinho... Porque cada pessoa é única para nós, e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só... Levam um pouco de nós mesmos e nos deixam um pouco de si mesmos. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada. Esta é a mais bela realidade da vida... A prova tremenda de que cada um é importante e que ninguém se aproxima do outro por acaso... |