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“Ninguém
mais tolera nada. A intolerância é a principal razão dos divórcios, das
brigas de casais e famílias, dos desentendimentos entre profissionais,
políticos, igrejas e nações”, - afirmam, sem pestanejar, jovens e
velhos. Esta crença popular não deixa de ter sua razão, já que a
tolerância é a virtude necessária para elevar o ser humano à condição de
civilidade.
POR UMA VERDADEIRA CULTURA DA TOLERÂNCIA
Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e Família. Mestre em Psicologia
A
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tolerância
é indispensável para o exercício das coisas pequenas do cotidiano e
expressa mais que respeito, polidez ou piedade. Ela sinaliza a presença
de grande sabedoria.
UM EXEMPLO DE INTOLERÂNCIA
As
recentes e repetidas publicações de tiroteios em escolas, de
assassinatos passionais e no trânsito, de prisões e condenações à morte
ou a multas estratosféricas pelo único motivo de pessoas haverem
escolhido seu credo religioso, ou expressado sua opinião desagradando o
governo de seu país, são o sinal de quanto ainda estamos longe do
respeito á liberdade de cada pessoa - naturalmente, quando exercida
dentro do que é universalmente considerado ético.
Você se deu conta de quanto o dogmatismo, a rigidez, a imaturidade emocional e a intolerância estão por trás destes fatos.
CARACTERÍSTICAS DE UMA PESSOA INTOLERANTE
A
pessoa intolerante tem a tendência a perceber as questões humanas como
sendo simples e, por isso, costuma recorrer a soluções do tipo branco ou
preto, bom ou mau, certo ou errado, ganhar ou perder. Com isso, deixa
escapar um rico leque de nuances, de sons e tons que se encontram entre
os extremos. É como se ela perdesse o espetáculo do movimento da vida
O
intolerante se nega a deixar abertas algumas questões complicadas,
difíceis de entender, ou sobre as quais nem os cientistas têm
suficientes informações, e exige-lhes o fechamento imediato ou sua
“correta” conclusão.
Aquele
que é intolerante mantém uma agressividade com relação a indivíduos e
grupos específicos, à sua maneira de ser, a seu estilo de vida e às suas
crenças e convicções.
Pesquisadores
encontraram que pessoas intolerantes também são dogmáticas, rígidas, de
mente fechada, preconceituosas, ansiosas, punitivas, não criativas e
agressivas.
E SER TOLERANTE, EM QUE CONSISTE?
Ser
tolerante é estar disposto a admitir nos outros uma maneira de ser e de
proceder diferente da nossa, é ter uma atitude de aceitação do legítimo
pluralismo.
Estimular,
neste sentido, a tolerância pode contribuir para resolver muitos
conflitos e para erradicar muitas violências, na família, na igreja e na
sociedade. E como os conflitos e as violências proliferam hoje, devemos
pensar que a tolerância é um valor que - necessária e urgentemente - se
deve promover.
Uma
pessoa que pratica a tolerância está se imunizando contra o fanatismo
(na dimensão pessoal), contra o fundamentalismo (na dimensão religiosa) e
contra o totalitarismo (na dimensão de Estado ou de Governo).
A TOLERÂNCIA DEVE TER LIMITES OU NÃO?
A
tolerância tem a sua justa medida. Ninguém pensa de verdade que impor a
lei justa e a legítima autoridade teria de considerar-se como uma
manifestação de intolerância.
"A
tolerância pára no limiar do crime”. Nesse sentido, não se pode ser
tolerante para com a tortura, o estupro, a pedofilia, a escravidão, o
narcotráfico, o terrorismo, a guerra. Parece claro que, se nos
deixássemos levar por esses erros, acabaríamos sob a lei do mais forte.
Seria impossível estabelecer um sistema de Direito. Seria como a lei da
selva. Não haveria forma de viver pacificamente em sociedade.
Entretanto,
muitas vezes é difícil estabelecer o que é “não tolerável”. Uma pessoa
sábia duvida de que seja ela a primeira, a saber, onde está a verdade, o
limite, o bem. Ela está ciente de que a busca da verdade é um processo
perene, por isso, respeita as opiniões e práticas dos outros, ainda que
sejam diferentes das suas, ainda que não as aprove expressamente. E sabe
que o bem e o mal não se apresentam assim tão claros nos dias de hoje.
Para
nós cristãos a verdade é uma PESSOA – é Jesus –, portanto, ninguém fora
dele a possui plenamente - nem a Igreja. Aqueles que pretendem serem
“donos da verdade", que não admitem dúvidas, terminam sendo intolerantes
em aceitar outros posicionamentos e vão se fechando a tudo o que se
apresente diferente ou incompreensível ao seu esquema conceitual.
A
verdade é Deus, Deus é amor, portanto, a verdade é o amor, é a
caridade. E é processual, pois Deus é infinito e sempre tem o novo para
nos mostrar.