CORREIO INFA Nº 64

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“Ninguém mais tolera nada. A intolerância é a principal razão dos divórcios, das brigas de casais e famílias, dos desentendimentos entre profissionais, políticos, igrejas e nações”, - afirmam, sem pestanejar, jovens e velhos. Esta crença popular não deixa de ter sua razão, já que a tolerância é a virtude necessária para elevar o ser humano à condição de civilidade.

POR UMA VERDADEIRA CULTURA DA TOLERÂNCIA
Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e Família. Mestre em Psicologia

A
 tolerância é indispensável para o exercício das coisas pequenas do cotidiano e expressa mais que respeito, polidez ou piedade. Ela sinaliza a presença de grande sabedoria.


UM EXEMPLO DE INTOLERÂNCIA
As recentes e repetidas publicações de tiroteios em escolas, de assassinatos passionais e no trânsito, de prisões e condenações à morte ou a multas estratosféricas pelo único motivo de pessoas haverem escolhido seu credo religioso, ou expressado sua opinião desagradando o governo de seu país, são o sinal de quanto ainda estamos longe do respeito á liberdade de cada pessoa - naturalmente, quando exercida dentro do que é universalmente considerado ético.

Você se deu conta de quanto o dogmatismo, a rigidez, a imaturidade emocional e a intolerância estão por trás destes fatos.

CARACTERÍSTICAS DE UMA PESSOA INTOLERANTE
A pessoa intolerante tem a tendência a perceber as questões humanas como sendo simples e, por isso, costuma recorrer a soluções do tipo branco ou preto, bom ou mau, certo ou errado, ganhar ou perder. Com isso, deixa escapar um rico leque de nuances, de sons e tons que se encontram entre os extremos. É como se ela perdesse o espetáculo do movimento da vida

O intolerante se nega a deixar abertas algumas questões complicadas, difíceis de entender, ou sobre as quais nem os cientistas têm suficientes informações, e exige-lhes o fechamento imediato ou sua “correta” conclusão.

Aquele que é intolerante mantém uma agressividade com relação a indivíduos e grupos específicos, à sua maneira de ser, a seu estilo de vida e às suas crenças e convicções.

Pesquisadores encontraram que pessoas intolerantes também são dogmáticas, rígidas, de mente fechada, preconceituosas, ansiosas, punitivas, não criativas e agressivas.

E SER TOLERANTE, EM QUE CONSISTE?
Ser tolerante é estar disposto a admitir nos outros uma maneira de ser e de proceder diferente da nossa, é ter uma atitude de aceitação do legítimo pluralismo.

Estimular, neste sentido, a tolerância pode contribuir para resolver muitos conflitos e para erradicar muitas violências, na família, na igreja e na sociedade. E como os conflitos e as violências proliferam hoje, devemos pensar que a tolerância é um valor que - necessária e urgentemente - se deve promover.

Uma pessoa que pratica a tolerância está se imunizando contra o fanatismo (na dimensão pessoal), contra o fundamentalismo (na dimensão religiosa) e contra o totalitarismo (na dimensão de Estado ou de Governo).

A TOLERÂNCIA DEVE TER LIMITES OU NÃO?
A tolerância tem a sua justa medida. Ninguém pensa de verdade que impor a lei justa e a legítima autoridade teria de considerar-se como uma manifestação de intolerância.

"A tolerância pára no limiar do crime”. Nesse sentido, não se pode ser tolerante para com a tortura, o estupro, a pedofilia, a escravidão, o narcotráfico, o terrorismo, a guerra. Parece claro que, se nos deixássemos levar por esses erros, acabaríamos sob a lei do mais forte. Seria impossível estabelecer um sistema de Direito. Seria como a lei da selva. Não haveria forma de viver pacificamente em sociedade.

Entretanto, muitas vezes é difícil estabelecer o que é “não tolerável”.  Uma pessoa sábia duvida de que seja ela a primeira, a saber, onde está a verdade, o limite, o bem. Ela está ciente de que a busca da verdade é um processo perene, por isso, respeita as opiniões e práticas dos outros, ainda que sejam diferentes das suas, ainda que não as aprove expressamente. E sabe que o bem e o mal não se apresentam assim tão claros nos dias de hoje.

Para nós cristãos a verdade é uma PESSOA – é Jesus –, portanto, ninguém fora dele a possui plenamente - nem a Igreja. Aqueles que pretendem serem “donos da verdade", que não admitem dúvidas, terminam sendo intolerantes em aceitar outros posicionamentos e vão se fechando a tudo o que se apresente diferente ou incompreensível ao seu esquema conceitual.

A verdade é Deus, Deus é amor, portanto, a verdade é o amor, é a caridade. E é processual, pois Deus é infinito e sempre tem o novo para nos mostrar.