“DE SUA PLENITUDE RECEBEMOS
GRAÇA SOBRE GRAÇA!”
Natal!
Deus nasce no meio da gente, feito gente como nós. Traz consigo a
plenitude da divindade. Vem para partilhar da nossa vida humana e para
nos fazer partilhar da sua vida divina, graça sobre graça. Vem construir
comunhão de vida entre o divino e o humano, através da força do amor.
Que a nossa celebração seja acolhimento alegre e agradecido desse imenso
dom, que se renova em cada Natal.
NATAL DE NOSSO SENHOR
JESUS CRISTO
1ª Leitura: Is 52, 7-10
Salmo Responsorial: 97
2ª Leitura: Hb 1, 1-6
Evangelho: Jo 1, 1-18
EVANGELHO – JOÃO 1, 1-18
1No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus.
2No princípio estava ela com Deus. 3Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito.
4Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 5E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la.
6Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. 7Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. 8Ele não era a luz, mais veio para dar testemunho da luz: 9daquele que era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano.
10A Palavra estava no mundo — e o mundo foi feito por meio dela — mas o mundo não quis conhecê-la. 11Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram.
12Mas, a todos que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, 13pois estes não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo.
14E
a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua
glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e
de verdade.
15Dele,
João dá testemunho, clamando: “Este é aquele de quem eu disse: O que
vem depois de mim passou à minha frente, porque ele existia antes de
mim”.
16De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. 17Pois por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo.
18A
Deus ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na
intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer. — Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
HOMILIA – Dom Henrique Soares da Costa
“Um
Menino nasceu para nós: um Filho nos foi dado! O poder repousa nos seus
ombros. Ele será chamado ‘Mensageiro do Conselho de Deus’”. Estas
palavras, lidas na leitura da Missa da Noite, dão bem o sentido da
presente celebração. Nasceu para nós um Menino; foi-nos dado um Filho!
Vamos encontrá-lo pobrezinho e frágil, deitado na manjedoura, alimentado
por uma Virgem Mãe, guardado por um pobre carpinteiro. Mas, quem é este
Menino? Quem é este Filho? Agora, com o sol já claro e alto, podemos
enxergar melhor o Mistério: meditemos bem sobre o que celebramos na
noite de ontem para hoje, no que professamos neste dia tão santo!
Este
menininho, a Escritura nos diz que ele é a Palavra eterna do Pai: esta
Palavra “no princípio estava com Deus... e a Palavra era Deus”. Esta
Palavra, que dorme agora no presépio, depois de ter mamado, é aquela
Palavra poderosa pela qual tudo que existe foi feito, “e sem ela nada se
fez de tudo que foi feito”. Esta Palavra tão potente, feita tão frágil,
esta Palavra que sempre existiu e que nasceu na madrugada de hoje, esta
Palavra que é Deus, feita agora recém-nascido, é a própria Vida, e esta
Vida é a nossa luz, é a luz de toda humanidade. Fora dela, só há treva
confusa e densa! Sim, fora do Deus feito homem, do Emanuel, não há vida
verdadeira! O Autor da Carta aos Hebreus, na segunda leitura, diz que,
após ter falado aos nossos pais de tantos modos, Deus, agora, falou-nos
pessoalmente no seu Filho, “a quem ele constituiu herdeiro de todas as
coisas e pelo qual também criou o universo”; somente a ele, o Pai disse:
“tu és o meu Filho, eu hoje te gerei!” Por isso, somente eles nos dá o
dom da vida do próprio Deus!
Eis
o mistério da festa de hoje: nesta criancinha nascida para nós, Deus
visitou o seu povo, Deus entrou na humanidade. Que mistério tão
profundo: ele, sem deixar de ser Deus, tornou-se homem verdadeiramente.
Deus se humanizou! Veio desposar a nossa condição humana, veio caminhar
pelos nossos caminhos, veio experimentar a dor e a alegria de viver
humanamente: amou com um coração humano, sonhou sonhos humanos, chorou
lágrimas humanas, sentiu a angústia humana... Ele, Filho eterno do Pai,
tornou-se filho dos homens para salvar toda a humanidade, “tornou-se de
tal modo um de nós, que nós nos tornamos eternos!”
Ó
criatura humana, por que temes com a vinda do Senhor? Ele não veio para
julgar ninguém. Não nasceu para condenar. Por isso ele apareceu como
criancinha e não como um rei potente; pode ser encontrado na manjedoura,
não no trono. Seu chorinho é doce, não afugenta ninguém. Sua mãe
enfeixou seus bracinhos frágeis: por que ainda temes? Ele não veio
armado para punir. Ele está aí franzino para ficar junto de nós e nos
libertar! Celebra, pois, a chegada do teu maior Amigo! Canta Aquele que
foi sempre, no sono e na vigília, esperado e ansiado, o guarda de
Israel, o consolo da humanidade, o alento do nosso coração. Ele chegou,
finalmente! Chegou para nunca mais nos deixar, porque desposou para
sempre a nossa pobre humanidade! São Jerônimo, com palavras cheias de
ternura, medita sobre este mistério: “O Cristo não encontra lugar no
Santo dos Santos, onde o ouro, as pedras preciosas, a seda e a prata
reluziam: não, ele não nasce entre o ouro e as riquezas, mas nasce num
estábulo, na lama dos nossos pecados. Ele nasce num estábulo para
reerguer os que jazem no meio do estrume: ‘Ele retira o pobre do
estrume’. Que todos os pobres encontrem nisso consolo! Não havia outro
lugar para o nascimento do Senhor, a não ser um estábulo; um estábulo
onde se achavam amarrados bois e burros! Ah! Se me fosse dado ver este
estábulo onde Deus repousou! Na realidade, pensamos honrar o Cristo
retirando o presépio de palha e substituindo-o por um de prata... Para
mim tem mais valor justamente o que foi retirado: o paganismo merece
prata e ouro. A fé cristã merece o estábulo de palha. Pois bem! Ouvimos a
criança choramingar no estábulo: adoremo-la, todos nós, no dia de hoje.
Ergamo-la em nossos braços, adoremos o Filho de Deus. Um Deus poderoso,
que por longo tempo, bradou alto dos céus e não salvou ninguém: agora
choramingou e salvou. A elevação jamais salva; o que salva é a
humildade! O Filho de Deus estava no céu, e não era adorado; desce à
terra e passa a ser adorado. Mantinha sob seu domínio o sol, a lua, os
anjos, e não era adorado; nasce na terra, homem, homem completo,
integralmente homem, a fim de curar a terra inteira. Tudo o que não
assumisse de humano, também não salvaria...”
É
este o mistério do Santo Natal! Tenhamos o cuidado de não parar nas
aparências, de não ficarmos somente na meiga cena do Menino, com a
Virgem e são José! Este Menino é o Emanuel, o Deus-conosco! Este Menino
veio como sinal de contradição, pois diante dele ninguém pode ser
indiferente: ou se o acolhe, ou se o rejeita: “A Palavra estava no
mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não quis
conhecê-la. Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram. Mas, a
todos os que a acolheram, deram a capacidade de se tornarem filhos de
Deus...” Pois bem: acolhamo-la, a Palavra que se fez Menino, Filho que
nos foi dado! Se o acolhermos de verdade, na pobreza do dia-a-dia, no
esforço de uma vida santa, então poderemos cantar com o salmista:
“Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios! O Senhor
fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça. Os confins do
universo contemplaram a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó
terra inteira, alegrai-vos e exultai!”
Vamos
todos! Sejamos testemunhas da graça deste dia, da novidade desta festa.
E cumpram-se em nós as palavras da Escritura na leitura da missa de
hoje: “Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia
a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação e diz a Sião: o teu
Deus reina! O Senhor consolou o seu povo! O Senhor desnudou seu santo
braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão de ver
a salvação que vem do nosso Deus”. Sejamos mensageiros dessa paz, dessa
boa nova, sejamos testemunhas do Menino, irradiemos a graça do Santo
Natal!
“Um
Menino nasceu para nós: um filho nos foi dado! O poder repousa nos seus
ombros. Ele será chamado ‘Mensageiro do Conselho de Deus’” (Is. 9,6).
Na
noite de ontem, na madrugada deste hoje, contemplamos como Igreja um
mistério inaudito: um Menino nos nasceu, pobre e frágil de uma Virgem
Mãe. Quantos vieram a esta igreja foram inundados pela paz desse Menino,
descido do céu no meio da noite. Agora, passada a noite, vencida a
aurora, com o sol já alto, aproximemo-nos, inclinemo-nos para ver
melhor: Quem é Aquele que repousa nos braços da Virgem Maria?
Ele
é o prometido aos nossos pais, ele é o anunciado pelos profetas, ele é o
esperado por Israel: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora
aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele
nos falou por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as
coisas e pelo qual também criou o universo”. Atenção! Este Menino não é
simplesmente humano, não é uma pessoa qualquer: por ele o Pai criou o
universo! Escutai: “Ele é o esplendor da glória do Pai, a expressão do
seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra. Ele foi
sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas”. Só a ele o Pai
diz: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei!” Caríssimos, ele, esse
Menino, não é um mensageiro de Deus, não é um portador qualquer: Ele é a
própria Palavra de Deus; aquela pela qual o Pai criou tudo. Escutai,
pasmos de admiração: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com
Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava com Deus. Tudo foi
feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito”.
Compreendei, sem sombra de dúvidas, sem rastro de hesitação: esse Menino
é Deus! Essa Palavra, esse Filho, esse Menino é a fonte de toda a vida
do mundo,é a fonte da nossa vida e o único que pode saciar o nosso
coração. Ouvi ainda: é sobre a Palavra! “Nela estava a vida, e a vida
era a luz dos homens!” Ela, a Palavra, o Verbo, veio para nos iluminar,
veio assumir a nossa vida humana para nos encher da sua vida divina; ele
tomou o que é nosso – fraqueza, mortalidade, fragilidade – para dar-nos
o que é seu – força, imortalidade, vigor! Ele veio para encher a nossa
vida de graça e de verdade, num mundo que nos ameaça com tantas
desgraças e com uma vida ilusória e mentirosa...
Pois,
que sejas bem-vindo, Santo Menino! Que sejas bem-nascido, ó Santo
Emanuel, Deus-conosco! Pensando em ti, repetimos com unção as palavras
de Santo Isaías profeta: “Como são belos andando sobre os montes, os pés
de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação
e diz a Sião, diz à Igreja: ‘Reina o teu Deus’! O Senhor desnudou seu
santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão
de ver a salvação que vem do nosso Deus”.
Mas,
caríssimos, neste dia de tanta luz e paz, a mesma Palavra de Deus que
nos enche de doçura traz uma nota de treva, traz já uma ponta de cruz.
Ouvi com cuidado e sábio realismo: “A Palavra estava no mundo – e o
mundo foi feito por meio dela – mas o mundo não quis conhecê-la. Veio
para o que era seu, e os seus não a acolheram!” É quase inacreditável,
mas ainda hoje – e sobretudo hoje! - estas palavras são tristemente
verdadeiras! O mundo aí fora não acolheu Aquele que nasceu para nós; o
mundo continua envolto em trevas; Maceió continua envolta em trevas!
Basta que saiamos daqui e veremos como a nossa paz será desmentida pela
futilidade, pela decadência moral, pela soberba prepotente de um mundo
cheio de si e satisfeito com sua própria treva! O mundo não o acolheu –
que dura e cruel realidade! O mundo o perseguiu por Herodes, o exilou na
fuga para o Egito, o mundo o contestou nos escribas e fariseus, o mundo
o julgou e condenou como blasfemo em Caifás, como louco em Herodes
Antipas, o mundo lavou as mãos ante ele e o crucificou em Pilatos! O
mundo ainda hoje nele cospe com o aborto e o desprezo pela vida humana, o
mundo o flagela com o consumismo e a impiedade, o mundo o crucifica com
a imoralidade e a destruição da família... Que Mistério de piedade:
Deus veio a nós, nasceu para nós! Que Mistério de iniqüidade: o mundo o
rejeitou, o mundo o desprezou, o mundo o renegou, o mundo transformou o
seu Natal numa festa de consumo porco e desprezível!
Mas,
nós, cristãos, temos a graça de acolhê-lo, de contemplá-lo, de nele
crer, de ouvir sua Palavra e comungar com imensa alegria e gratidão seu
Corpo e Sangue nascido, morto e ressuscitado por nós! É verdade que o
mundo não o acolheu, mas, ouvi: “A todos que o receberam, deu-lhes a
capacidade de se tornarem filhos de Deus isto é, aos que acreditam em
seu nome, pois estes não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem
da vontade do homem, mas de Deus mesmo!” São para nós estas palavras
estupendas! Por que nele cremos, porque o acolhemos, nascemos nas águas
do Batismo, recebemos o seu Espírito Santo e fomos tornados filhos de
Deus, filhos nele, o Filho unigênito e bendito!
Eis,
irmãos, quão grande é, por causa dele, a nossa dignidade; quão grande
nossa esperança, quão grande nossa responsabilidade! Não reneguemos com o
nosso modo de viver a realidade tão grande que nos foi dada! E, como
por nós mesmos, nada podemos, a não ser sermos infiéis, terminemos essa
meditação com a oração da segunda Missa da Solenidade de hoje, a Missa
que a Igreja celebrou na Aurora, quando o céu começava a clarear: “Ó
Deus onipotente, agora que a nova luz do vosso Verbo encarnado invade o
nosso coração, fazei que manifestemos em ações o que brilha pela fé em
nossas mentes!” Pedimos por Aquele que, nascido eternamente do vosso
seio como Deus, hoje nasceu, humano, da Virgem Maria, como o sol nasce
da aurora. Ele, que é Deus convosco pelos séculos dos séculos.
Mais
uma vez, caríssimos, a volta do ano trouxe-nos a santa celebração do
Natal do Senhor nosso Jesus Cristo. Historicamente, o natalício do
Cristo nosso Deus ocorreu há dois mil anos atrás; no entanto, na
potência do Santo Espírito, o Natal acontece hoje misticamente, nos
santos mistérios que celebramos com piedade e unção. Cada um de nós que
participa desta celebração sagrada, conserve no coração esta certeza:
nos gestos, nas palavras, nos ritos da Santa Liturgia, a graça do santo
Natal do Senhor faz-se realmente presente e verdadeiramente inunda a
nossa vida! Para nós, aqui reunidos, o Natal é hoje, o Natal é agora!
Assim,
podemos cheios de admiração, escutar o Evangelho que nos anuncia: “O
Verbo se fez carne e habitou entre nós!” Em outras palavras: o Filho
eterno do Pai, Luz gerada da Luz, Deus verdadeiro gerado eternamente do
Deus verdadeiro, para salvar o mundo com a sua piedosa vinda, hoje
nasceu homem verdadeiro, homem entre os homens, de Maria, a Virgem!
Caríssimos, quem poderia imaginar tal mistério, tal surpresa de Deus,
nosso Senhor? A Liturgia oriental exclama, admirada: “Vinde,
regozijemo-nos no Senhor, explicando o mistério deste Dia. A Imagem
idêntica do Pai, o Vestígio de sua eternidade, toma forma de escravo,
nascendo de uma mãe que não conheceu o casamento, e sem mesmo sofrer
mudança! O que ele era, permaneceu: Deus verdadeiro; o que não era, ele
assumiu: tendo-se feito homem por amor dos homens” (Grandes Vésperas do
Natal). Eis o mistério: o Menino que nos nasceu para nós, o filho que
nos foi dado, é Deus perfeito, é o Filho eterno, através de quem e para
quem tudo foi criado no céu e na terra. Ele não é uma pessoa humana; é
uma Pessoa divina, a segunda da Trindade. Este menininho é adorável:
dever receber toda nossa adoração, toda nossa louvor, todo nosso afeto.
No entanto, sendo Deus perfeito, hoje, ele saiu do seio da Sempre Virgem
Maria, como verdadeiro homem, homem perfeito, com um corpo igual ao
nosso, com uma alma igual à nossa, com uma vida para viver igual à nossa
pobre existência! Quanto amor, quanta bondade, quanta humildade!
Neste
Deus hoje nascido da Virgem, a nossa humanidade foi unida ao próprio
Deus. Hoje a força do pecado começou a ser quebrada, hoje a doença da
nossa natureza humana, tão propensa ao pecado, ganhou seu verdadeiro
remédio, hoje, fazendo-se homem mortal, o Salvador nosso veio trazer a
medicina que cura a nossa morte! Bendita seja a sua gloriosa vinda, o
seu virginal nascimento! Adoremo-lo! Afirmemos com a Igreja, na sua
santa Liturgia: “Foi depositado num estábulo Aquele que contém o
universo. Ele descansa numa manjedoura e reina nos céus. É o Salvador
dos séculos, o Rei dos Anjos, Aquele mesmo que a Virgem amamentava
(Liturgia romana).
Por
tudo isso, nunca percamos de vista a graça que recebemos pelo dom da
fé! Vivemos num mundo confuso, de mentiras, de idolatrias, de confusão. O
homem pensa poder fazer sozinho a sua vida, encontrar do seu modo a
felicidade, fazer de seu jeito a sua própria existência. A Solenidade de
hoje nos recorda que a humanidade precisa de um Salvador – e esse
Salvador é Jesus, nosso Senhor! Ele é a nossa única Verdade, ele, o
nosso único Caminho, ele, a verdadeira Vida! Não queremos outros
mestres, não admitiremos outros senhores, não buscaremos outras
verdades. Mais que nunca, nesta quadra tão difícil da história, quando o
cristianismo e a Igreja de Cristo são tão caluniados e perseguidos, tão
denegridos pelos meios de comunicação... hoje, quando ser cristão tem
se tornado motivo de chacota e mangação, queremos, uma vez mais, e com
todas as nossas forças, proclamar nossa total e incondicional adesão ao
nosso Deus e Senhor Jesus Cristo! Por isso, amados nos Senhor, o Filho
de Deus fez-se homem: para que o homem possa ver e ouvir claramente o
que é ser homem, o que é viver de modo verdadeiramente digno, livre,
maduro e feliz! O mundo nos propõe uma liberdade torpe, fundada nos
caprichos, na loucura de fazer aquilo que se quer; o mundo nos tenta
convencer que cada um é a sua própria medida, é o dono de sua própria
vida; o mundo atual nos ensina a viver entregue às próprias paixões, aos
próprios desejos... Aí estão: famílias destruídas, filhos sem pais, um
rio de abortos e infelicidade, jovens sem esperança, uma sociedade sem
valores nem critérios verdadeiramente dignos do homem criado à imagem de
Deus... Mas, outro é o caminho que o Salvador hoje nascido nos aponta.
Aprendamos com ele, o homem perfeito; sigamo-lo sem medo, coloquemos aos
seus pés a nossa vida e a nossa liberdade, os nossos desejos e os
nossos afetos. Deixemos que sua santa lei de amor e graça inunde nosso
coração, penetre nas nossas famílias, modele o nosso modo de viver!
Então, seremos realmente humanos, seremos realmente livres, seremos
realmente felizes!
Alegremo-nos
pela hodierna solenidade! “Que desapareça toda enfermidade: hoje, o
Salvador apareceu. Não haja guerra, cale-se a discórdia: hoje, a
verdadeira paz desceu do céu. Desapareça toda amargura: hoje por todo o
universo os céus destilam mel. Fuja a morte, pois hoje a vida nos é dada
do céu... Hoje, os cegos recobram a vista, os surdos ouvem, os coxos e
os leprosos são curados, aqueles que estavam na tristeza estão na
alegria, os enfermos encontram a saúde, os mortos ressuscitam. Somente o
Diabo e seus demônios – e o mundo que os serve – tremem de cólera, pois
sua derrota é a restauração do gênero humano. Hoje, o Cristo nos
apareceu como Salvador” (Homilia de um Anônimo do século V).
Eis,
pois, quantos motivos para nossa alegria, quantos, para nosso júbilo!
Que pessoalmente e em família, celebremos de modo santo e devoto a Vinda
do Nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo, a quem seja dada a glória
com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos.
ORAÇÃO
Ó
Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente
estabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso
Filho, que se dignou assumir nossa humanidade. Amém!