Casualmente
me caiu às mãos um texto que relata posicionamento de 40 especialistas
de diversas partes do mundo, reunidos em dois dias de simpósio convocado
pela ONU-UNICEF, para debater o problema internacional da violência na
família.
Os
participantes foram unânimes em afirmar que, desde a violência até o
desenvolvimento sustentável, nada encontrará solução a não ser que se
trabalhe em conjunto, neste mundo interdependente. E para tanto há que
se buscar soluções pluridisciplinares.
A FAMÍLIA DO FUTURO SERÁ SEM VIOLÊNCIA?
Deonira L. Viganó La Rosa – MFC/RS
Terapeuta de Casal e de Família - Mestre em Psicologia
Eliminar a violência na família e na sociedade: “uma obrigação de todos”
Nossos
esforços para eliminar a violência, seja na família ou na sociedade,
não são uma questão de escolha, de generosidade, ou de bom temperamento.
Antes, são uma obrigação que nos foi imposta por nossa humanidade e por
nossa interdependência. Se somos civilizados e humanizados, vamos
dedicar tempo e criar estratégias para construir a paz, diminuindo a
violência, cada vez mais aguçada nos dias atuais.
O Simpósio, ao qual me referi, faz afirmações importantes:
· A violência na família não pode mais ser considerada como uma questão privada.
· A
violência na sociedade e a violência na família estão estreitamente
ligadas. As guerras, o terrorismo e mesmo as imagens de violência, têm
um impacto profundo sobre a família, e são geradores de violência. Por
outro lado, a violência na família encoraja e torna possível, a um nível
mais elevado, a violência na sociedade em geral, produzindo gerações
que se sucedem e que são mais e mais capazes de violência.
· A
violência na família tem, também, profundas raízes no preconceito
contra mulheres, preconceito encorajado por fatores culturais e
religiosos.
Compreender estas causas da violência na família é um primeiro passo, essencial para a mudança.
A NOTA DOMINANTE DA FAMÍLIA SEM VIOLÊNCIA É A UNIDADE
A
família sempre foi e continuará sendo o meio mais propício para que as
futuras gerações de crianças possam crer e formar sua opinião sobre si
mesma, sobre o mundo e sobre o fim e o sentido da vida.
No
passado, a maioria das famílias era baseada sobre o poder. O poder
exige conformidade a um modelo de obediência, difícil de aceitar na era
da participação e da valorização da democracia.
Mais
recentemente, uma revolta contra este modelo levou à família
indulgente, onde não há autoridade alguma e onde tudo é permitido. Neste
tipo de família os membros acabam por acreditar que a coisa mais
importante da vida é obter aquilo que querem. Isto leva a um
entrelaçamento confuso entre pensamentos e emoções.
No mundo interdependente de hoje, estes tipos de família estão sendo abortados. A única solução é inventar uma nova família.
A
família do futuro é uma família baseada na UNIDADE. Tal família está
radicada sobre a igualdade entre o homem e a mulher e sobre a justiça
para com todos os seus membros. Estas famílias se distinguem por sua
cooperação, sua maturidade e seu amor não egoísta. Uma família fundada
sobre a unidade, por sua própria natureza, é desprovida de violência.
Habitualmente,
os psicólogos falam dos traumatismos da família, os advogados falam dos
direitos dos seus membros, e assim por diante. Hoje, é necessário
desenvolver uma nova maneira de ver as coisas – uma maneira integrada e
multidisciplinar. Todas as áreas devem reunir-se e debater o problema de
maneira global e integrada.
UM PLANO DE AÇÃO
A
organização da Conferência propagou suas conclusões e recomendações,
esperando estimular os governos e a sociedade civil a terem um cuidado
especial em relação à violência na família e a adotarem políticas
enérgicas para combatê-la.
Entre as recomendações específicas, destacam-se:
· Dar
formação e apoio contínuo às pessoas que se ocupam das crianças, com a
finalidade de tratar e de prevenir a violência na família;
· Sensibilizar,
formar e mobilizar os agentes dos governos e os legisladores, a fim de
que tomem em consideração as consequências econômicas, sociais e
psicológicas ligadas à violência na família;
· Estimular
o desenvolvimento de materiais pedagógicos, livros de sala de aula, e
mesmo jogos que propaguem a igualdade dos sexos; e
· Militar
para fazer aprovar as leis que criminalizam todas as formas de
violência doméstica e que forneçam meios que facilitem seu controle.