O
bom exemplo começa nas terras brasileiras. Povo nas ruas contra a
corrupção intolerável. Trata-se de dar força ao governo para levar às
últimas consequências a faxina ainda em curso. A cada momento surge um
novo foco de micróbios a exterminar. A ação sanitária vai higienizando o
cenário em que nos movemos e recuperando riquezas dos cofres de todos
desviados para os cofres de poucos.
O POVO TOMA OS PALCOS DO MUNDO
Helio Amorim
MFC/RJ
Esses
movimentos populares que explodem por nosso país devem inibir a sanha
faminta dos grandes corruptos e amedrontar os pequenos punguistas de
propinas miúdas que se inspiram nos exemplos de cima. Servirão também
para ativar a consciência preguiçosa dos corruptores, que cedem a
ameaças e compram cumplicidades sem aceitar a culpa da construção dessa
cultura antiética.
Na
outra parte do mundo, um pouco para leste do planeta, o povo gostou de
descobrir o seu poder e derrubou tiranos, ocupando as praças e morrendo
nas ruas pela vitória da liberdade. A luta e a morte continuam até a
remoção dos opressores remanescentes, às vezes apadrinhados por
interesses políticos e econômicos do oeste daquele cenário.
A
surpresa recente está justamente nessas bandas ocidentais em crise
econômica. As praças dos Estados Unidos e Europa estão cheias de povo
esbravejando contra o sistema capitalista, perverso por natureza,
baseado numa competição desumana que esmaga os mais fracos pelo
desemprego e apropriação de renda, em qualquer tropeço das grandes
jogadas financeiras de bancos e investidores, enriquecidos pela pura
especulação dos mercados.
Nestes
cassinos, circulam lucros fantásticos gerados pela esperteza nas
bolsas, onde se ganham fortunas sem se produzir nada de útil para
minorar as disparidades sociais do mundo, ainda castigado por fome,
miséria e doenças endêmicas.
Ver
multidões de europeus e norte-americanos nas ruas, com cartazes de
protesto contra o modelo econômico, por lá desenvolvido e exportado,
deixa surpreso até o ferrenho comunista da guerra fria, recordando as
perseguições do macarthismo pelos seus mesmos protestos dos anos
setenta. No comportado e sisudo Reino Unido, os protestos incluíram
incêndios de prédios e veículos, um quebra-quebra de subdesenvolvidos,
como aqueles lordes rotulavam os selvagens do hemisfério sul. Outros
incêndios são filmados em outras terras elegantes e circulam por nossas
telas espantadas.
A
crise européia é evidente, agravada pela imposição de restrições e
supressão de programas sociais e políticas públicas trabalhistas e
previdenciárias, redução de salários e aposentadorias, demissões
selvagens, taxas até então desconhecidas de desemprego, a Espanha
liderando com escandalosos vinte por cento, sem perspectivas de
recuperação.
Os
mais pobres, que sempre são os primeiros a pagar a conta das crises,
têm agora, naqueles países, a companhia de milhões de desempregados de
todas as classes sociais que não conheciam a ociosidade forçada e contas
bancárias zeradas. São os que nestes dias ocupam ruas e praças do mundo
rico.
Ainda
não se sabe o que vai resultar da crise atual sistêmica, iniciada há
menos de três anos. A mobilização para socorro dos países quebrados
encontra os habituais salvadores debilitados. Surge então um movimento
surrealista: os países até então devedores explorados pelo FMI, agora
saudáveis credores do Fundo, se propõem a ajudar os ricos enfermos.
Prato feito para os comentaristas econômicos.