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"ARRENDARÁ A VINHA A OUTROS VINHATEIROS!"
Somos
a "vinha do Senhor", na qual a vivência da justiça e da partilha é
expressão de nossa acolhida ao amor de Deus. Porém, na medida em que
excluímos Deus de nosso convívio, tornamo-nos vítimas de nosso próprio
egoísmo. Como administradores da vinha do Senhor, tenhamos nele o centro
de nossa comunhão.
27º DOMINGO DO TEMPO COMUM
1ª Leitura: Isaias 5, 1-7
Salmo: 79
2ª Leitura: São Paulo aos Filipenses 4, 6-9
Evangelho: Mateus 21, 33-43
EVANGELHO – MATEUS 21, 33-43
Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo:
33"Escutai
esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma
cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma
torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o
estrangeiro.
34Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram.
36O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma.
37Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’.
38Os
vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o
herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram.
40Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?"
41Os
sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "Com certeza mandará
matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros
vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo".
42Então
Jesus lhes disse: "Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os
construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo
Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’
43Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos".
Palavra da Salvação – Glória a vós, Senhor.
HOMILIA – Dom Henrique Soares
VAMOS TRABALHAR NA VINHA?
A
Palavra de Deus deste XXVII domingo comum recorda-nos uma história de
amor, misteriosa, triste e destinada a nos fazer pensar... É a história
do Povo de Israel. Não sua história simplesmente na forma de crônica, de
rosário de fatos, um após o outro, no correr do tempo. Aqui a história é
apresentada em forma de parábola, uma parábola do amor de Deus, o
Amado, por sua vinha; uma parábola de decepção, de vinhateiros
assassinos, de um Filho querido jogado fora da vinha...
Na
primeira leitura, de Isaías, Deus se queixa de sua vinha pela boca de
seu profeta: “Um amigo meu plantou videiras escolhidas... esperava que
ela produzisse uvas boas, mas produziu uvas selvagens”. Eis a história
de Israel, a vinha amada: o Senhor plantou seu povo: esperou bons
frutos, mas vieram frutos azedos: “A vinha do Senhor dos exércitos é a
casa de Israel, e o povo de Judá é sua amada plantação; eu esperava
deles frutos de justiça – e eis a injustiça; esperava obras de bondade –
e eis a iniqüidade”. Ante tal infidelidade, o Senhor diz pelo profeta:
“Vou desmanchar a cerca, e ela será devastada, vou derrubar o muro, e
ela será pisoteada. Vou deixá-la inculta e selvagem...” Eis o triste
resumo da história do Povo de Deus da antiga aliança. Tão amado, tão
preferido, Israel não foi fiel à aliança, Israel não deu os frutos de
amor, de sensibilidade para com seu Deus, de total dedicação a ele que o
Senhor esperava.
Essa
atitude do primeiro povo chegou ao extremo na atitude dos chefes judeus
da época de Jesus: misteriosamente, eles rejeitaram Jesus,
expulsaram-no da vinha de Deus e mataram-no. O fato é que Israel foi se
fechando para aliança com o seu Deus e, quando o Messias veio, o Povo
amado não teve a capacidade para reconhecê-lo e acolhê-lo... Recordemos
como Jesus fala de seu próprio destino na parábola de hoje: o
proprietário que planta a vinha é o Pai do céu, a vinha amada é a casa
de Israel – essa vinha que, já vimos, deu frutos azedos; os vinhateiros
são os chefes do povo, aos quais Deus confiou sua vinha; o Senhor enviou
seus empregados para receber os frutos: são os profetas e todos aqueles
que advertiram o povo de Deus para que se convertesse. Os vinhateiros
espancaram e mataram esses enviados. O Pai, então, enviou o Filho, o
Amado, o Herdeiro. “Vinde, vamos matá-lo!” – eis a terrível palavra dos
vinhateiros, a sentença dos chefes judeus! E tomam o Filho amado,
expulsam-no como um maldito e matam-no! Diante disso, a conclusão do
Evangelho é tremenda, é misteriosa: a vinha será tirada e dada a outros.
A eleição de Israel passará para um novo Povo, a Igreja; Jesus, a pedra
rejeitada, será a pedra angular de uma nova construção – o Novo Povo de
Deus, a Igreja do Novo Testamento, nascida do seu sangue.
Que
história impressionante: um povo tão amado, um povo singular. Um povo
de santos... e que perdeu a oportunidade de reconhecer e acolher o
Messias tão esperado e tão desejado! Um povo que deveria ser ministro da
salvação de toda a humanidade e não soube compreender sua missão... Ao
mesmo tempo, nosso misterioso nascimento: somos a Igreja, resto de
Israel, do qual Deus fez, em Cristo, um Novo Povo, para testemunhar o
Senhor e levar seu nome aos confins da terra. Somos um povo, caríssimos:
mais que brasileiros, somos Igreja; mais que tudo, somos o Povo de Deus
da nova aliança, somos a vinha do Senhor, enxertada no verdadeiro
tronco, que é Jesus, a verdadeira videira! Sem merecer, por graça de
Deus, eis o que somos!
A
Escritura nos diz que todas essas coisas aconteceram para nos servir de
exemplo (cf. 1Cor. 10,6)... Não somos melhores que os judeus, não
devemos desprezá-los nem condená-los! É verdade que jamais a aliança
passará para um terceiro povo, jamais a Igreja perderá sua condição de
Novo Povo de Deus. Compreendamos: a verdadeira vinha nova é o próprio
Cristo: "Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor" (Jo
15,1). Vinha bendita, verdadeira cepa da antiga vinha, Israel! Jesus é a
videira, nós, os ramos: "Eu sou a videira e vós os ramos" (Jo 15,5).
Ele é o tronco bendito e nós, sua Igreja, os ramos que não se podem
separar dele! É por isso que jamais essa Igreja, nova vinha unida ao
tronco, poderá perder a condição de videira escolhida, amada e eleita.
Mas, atenção: os ramos, individualmente, podem ser arrancados: "Todo
ramo que em mim não produz fruto o Pai corta" (Jo 15,2). Eis, meus
caros: devemos, sim, perguntar pela nossa fidelidade a Deus que, em
Jesus, nos fez ramos da sua nova vinha! Que frutos, caríssimos, estamos
dando? Uvas doces? Uvas azedas? Uvas nenhumas? Quais são nossos frutos?
São nossas obras, são nossas atitudes, é nosso modo de viver? O Senhor
espera de nós uma vida segundo a sua vontade, segundo aquilo que o
Senhor Jesus nos mostrou e viveu; o Senhor espera de nós um testemunho
de amor profundo a ele, para que o mundo descubra e corresponda ao seu
amor! Na segunda leitura deste hoje, o Apóstolo nos exorta: "Irmãos,
ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro,
amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor.
Praticai o que aprendestes e recebestes. Assim o Deus da paz estará
convosco". Eis aqui um belo programa de frutos dados por um ramo
enxertado em Cristo!
Igreja
de Deus, aqui reunida para a Eucaristia, é a vinha amada do Senhor!
Vinha por vezes ameaçada de devastação, seja pela perseguição do mundo
que não crê, seja pelos seus próprios pecados, que azedam os frutos que
deveriam ser doces! Convertei-vos, Igreja de Deus em Cristo;
convertei-vos e dai frutos em vossa vida!
Quanto
a vós, Senhor Deus, Senhor da vinha, “Voltai-vos para nós, Deus do
universo! Olhai dos altos céus e observai! Visitai a vossa vinha e
protegei-a! Foi a vossa mão direita que a plantou; protegei-a, e ao
Rebento que firmastes!” Olhai, Pai Santo, a face do vosso Filho Jesus,
morto e ressuscitado, que oferecemos em sacrifício eucarístico: tende
piedade de nós; dai-nos força, vida e paz!
ORAÇÃO
Ó
Deus eterno e todo-poderoso, derramai sobre nós a vossa misericórdia,
perdoando o que nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos
pedir. Amém!